sábado, 19 de maio de 2012

A Mulher Guineense em Diáspora

Depois de ter escrito aqui no ano passado sobre "A Mulher Guineense: Uma Análise Crítica da Sua Integração em Vários Quadrantes da Sociedade", a propósito do dia 08 de Março - dia Internacional dedicado à figura da mulher – sinto-me agora no dever de manifestar a minha profunda e inteira gratidão à mulher guineense em diáspora, tendo como ponto de partida a realidade portuguesa. 

Nos últimos anos, precisamente a partir dos anos oitenta, tem vindo a crescer consideravelmente a emigração dos guineenses, sobretudo da camada feminina, na busca de melhores condições de vida, extremamente difíceis de conseguir alcançar na Guiné-Bissau, devido à má política governativa dos sucessivos governos que se tem verificado no país ao longo da sua história de pós-independência nacional. 

Tal como grande parte dos homens, a maioria das mulheres guineenses em diáspora, estão mais radicadas na Europa, principalmente em Portugal. Esta opção de escolha prende-se por várias razões, sobretudo de ordem sociocultural, sendo que a mais significativa refere-se aos fortes laços cultivados na colonização dos portugueses no nosso país durante cinco séculos, proporcionando convivências próximas entre os dois povos, e acabando por influenciar de forma decisiva algumas facetas da identidade cultural do nosso povo. Tudo isto permite uma maior e mais rápida integração em Portugal em comparação com qualquer outro país do mundo, sendo a língua portuguesa um factor de suma importância na decisão. 

As mulheres guineenses em Portugal, não obstante os factores favoráveis supra mencionados para a sua rápida e eficaz adaptação em território português, continuam ainda a confrontar-se com sérios problemas de fundo, tais como o desemprego, a falta de acompanhamento do marido na educação dos filhos, a precariedade laboral, algumas barreiras linguísticas. Estes problemas vão dificultando-lhes a vida na consolidação da sua integração, retirando-lhes “a paz interior” necessária para terem coragem e forças suficientes para fazer face aos desafios quotidianos completamente desgastantes que a vida lhes impõe aqui em Portugal. 

Não obstantes estes evidentes desafios que elas carregam no seu dia-a-dia, e acrescentando o facto de viverem num país com hábitos e costumes um pouco diferente dos nossos, as mulheres guineenses têm conseguido dar uma resposta positiva à situação, fruto de garra e de persistência que adquiriram na Guiné-Bissau, através dos valores de boa educação incutidos pelos pais desde a mais tenra idade, que caracteriza a maioria delas. 

 Importa desde já realçar de forma específica e inequívoca algumas dessas sirbintia que elas têm demonstrado em Portugal, que certamente são motivo de orgulho para qualquer cidadão guineense, que passa desde logo pelo testemunho nobre e exemplar que elas transmitem em todos os domínios das suas convivências, destacando-se sempre como pessoas de bem e trabalhadoras, o investimento na educação dos filhos, possibilitando-lhes a formação e o acesso ao ensino superior (se a maioria das nossas mulheres emigrantes são pessoas desprovidas de alta cultura literária, a mesma realidade já não se verifica tanto com os seus filhos, que têm ganho projecção a nível de integração e de formação idêntica à dos filhos portugueses). Toda essa realidade ilustra muito bem o empenho e a não conformação das nossas mulheres com a sua humilde condição natural, proporcionando aos seus filhos o acesso a boa formação, que elas mesmas não tiveram a oportunidade de obter na Guiné-Bissau, por motivos vários que não importam agora reportar aqui. 

Outra grande virtude que pode ser trazida aqui à colação, tem a ver com o facto de as mulheres guineenses, apesar da onda de crise que se tem abatido fortemente em Portugal, conduzindo múltiplas pessoas e famílias para o flagelo do desemprego e da autêntica miséria, não se terem resignado com a situação; antes pelo contrário, desdobram-se em várias actividades para ganhar o sustento diário para a família, apoiando simultaneamente os restantes familiares na Guiné-Bissau, através de “remessa dos emigrantes”. São verdadeiras mulheres dos “sete ofícios”, levantando-se de manhã cedo, trabalhando nas mais diversas actividades, a começar nas limpezas, cuidados domésticos, educação, fabricas, restauração, empresas, hospitais, escritórios, escolas, lares de crianças e idosos, centros comercias, universidades etc… só regressando a casa ao cair da noite, ultrapassando a barreira de oito horas diárias, considerado o limite máximo de uma jornada laboral. 

 A realidade da mulher guineense em diáspora não se reduz ou circunscreve apenas a Portugal (não obstante ser o país mais acolhedor e representativo dos emigrantes guineenses em diáspora). Ela vai muito além disso, havendo uma expressão considerável das nossas mulheres localizadas nos cinco continentes deste vasto mundo. E certamente que estas mulheres confrontam-se com os mesmos desafios diários (ou ainda mais), das mulheres guineenses residentes em Portugal. 

 Tenho acompanhado por alto algumas delas através das redes sociais, procurando inteirar-me na medida do possível das suas preocupações, lutas do dia-a-dia, trabalhos, dilemas e conquistas. De uma perspectiva geral, estou bastante satisfeito e orgulhoso pelo espírito de sacrifício e de persistência que elas têm demonstrado na luta incessante para obter as melhores condições de vida para si e para os seus respectivos familiares, mesmo estando a viver numa terra completamente estranha. 

 É ainda de salientar que, para além das nossas mulheres emigrantes a labutar em diversos países, tal como já ficou patente, temos também um número significativo das nossas mulheres que, por vicissitudes várias ou supervenientes, viram-se atraiçoadas por motivos de saúde, ficando assim retidas na cama e no hospital pela dor física e de enfermidade; impossibilitadas de exercer qualquer tipo de actividade ou de poder voltar à Guiné-Bissau para estar com a família, como seguramente poderá ser o desejo daqueles que foram contemplados com a junta médica para o exterior do país, a fim de fazerem tratamentos médicos das doenças que padecem, tendo em conta a falta de recursos e meios técnicos disponíveis nos nossos hospitais na Guiné-Bissau, para fazer face a complexidade de certos tipos de patologias. 

 Quero ainda lembrar do fundo do meu coração, muitas das nossas jovens mulheres a estudarem nos diversos ciclos de ensino (a começar com ensino profissionalizante, elementar/secundário, licenciatura, mestrado, doutoramento) por este mundo fora (nô badjudas nbombos na terras di djintis!), sendo certo que daqui a mais alguns anos serão peças chave no motor do desenvolvimento sustentável do nosso amado país, a Guiné-Bissau, que tanto carece e precisa com urgência dos seus bons filhos com senso patriótico para fazê-lo avançar. 

 Perante tudo o que ficou explanado, e não podendo de modo nenhum deixar de prestar esta singela e sentida homenagem a todas as nossas mulheres em diáspora, fazendo votos de que DEUS as abençoe rica e poderosamente em todos os domínios da sua convivência diária. Que os seus sonhos de facto se possam tornar uma realidade concretizável para o bem-estar de todo o povo guineense. Que assim seja! 

(Artigo escrito por Térsio Vieira, extraído no blog "As Verdades").

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